sábado, 8 de abril de 2017

O Direito de Jogar Mal

Quando o árbitro apitou o fim do jogo na primeira partida entre PSG e Barcelona, no Parc des Princess, em Paris, era consensual para todo mundo que, depois do atropelamento de 4 x 0, seria praticamente impossível uma reviravolta do time catalão.
O PSG havia jogado como time grande.  Agressivo, pressionando, agredindo o adversário de forma implacável.  Draxler, Di Maria, Cavani, Verrati... Todos jogadores de altíssimo nível, jogando com incrível intensidade.  Na bola – e apenas na bola! – a equipe francesa parecia já despachar  o gigante Barcelona já na primeira partida.
Mas quem não acreditaria no super time do Barcelona? Barcelona que tem Neymar, Messi, Súazez . Jogando no Camp Nou, onde é quase imbatível.  Quem duvidaria?
Eu, você e praticamente todo mundo.  Porque o Barcelona já não é a equipe da técnica inigualável somada a coletividade, aquele time quase perfeito que vimos tantas vezes encantar o mundo. O time do toque de bola com paciência, da saída de bola perfeita, do envolvimento do adversário que, frente a equipe catalã, via-se sem saída.
Para quem vem acompanhando o time comandado pelo técnico Luis Henrique, é óbvio que se havia alguma chance de uma virada, ela estava no trio ofensivo. O trio que na primeira partida fora quase apático. A parte Neymar. O craque brasileiro parecia o único ligado no jogo, tentando jogadas às vezes sozinho, embora sem muito sucesso.
E mesmo os torcedores mais otimistas do Barça sabiam que, se já era difícil imaginar que o time devolveria  os 4 gols a zero, era talvez ainda mais difícil pensar que o resultado se daria sem ao menos um gol do PSG, o que obrigaria o time espanhol a ter de marcar 6.
Mas quando arbitro Deniz Aytekin (não esqueçamos o nome dele) deu o apito inicial no Camp Nou, com poucos minutos, algo parecia mudado em relação àquele jogo que vimos em Paris. Não tanto pelo lado do Barcelona, mas principalmente pelo lado francês. Logo aos dois minutos, um gol estranho, numa bobeada da defesa, o Barcelona abria o placar com Luís Súarez. Ótimo para o Barça. Nada melhor que um gol no início para uma equipe que precisa reverter tamanha vantagem. Mas o jogo que fazia o Barcelona dava a impressão de que não seria possível . Até que mais um vez,  em mais um erro da defesa ­­– com destaque para o zagueiro titular da seleção brasileira, Marquinhos – o Barcelona recebia mais um presente do PSG nos instantes finais do primeiro tempo. O Barcelona fechava a primeira etapa com dois a zero, mesmo não jogando para tal.
O inicio do segundo tempo, um fator que seria imprescindível para o resultado final, entrara no jogo. Deniz Aytekin, o arbitro do jogo. Ficou claro para todo mundo que Neymar havia buscado o contado com Meunier, e, apenas por isso, caira na área. Mas o juiz enxergou pênalti. Pênalti que Messi convertera, batendo forte, sem chance para o goleiro Trapp.
A partir daí, tudo parecia ter virado contra o PSG. Fora a partida apática, medrosa, agora a vantagem já não parecia tão grande. Com o Barcelona com um a mais em campo - Deniz Aytekin, o juiz - a impressão era de que, se não reagisse logo, a equipe francesa iria sofrer no Camp Nou.
Mas com a entrada de Di Maria, o PSG parecia de novo poder mostrar todo o seu potencial ofensivo, como na primeira partida do duelo. Poucos minutos depois, Cavani marcaria o gol que mataria o Barcelona, agora, precisando fazer seis gols.
O que poderia fazer o Barcelona conseguir tal façanha? Messi, Neymar, Súarez? Mesmo sabendo da força do ataque sul-americano, era de se duvidar...
Dos três, Neymar era disparado o melhor no jogo. Como na primeira partida, driblava, chamava o jogo, arriscava. E, já aos 43 min do segundo, bateu falta com maestria. Um golaço. Mas que não parecia ter tanta utilidade, afinal de contas, faltavam mais dois gols, com o jogo se aproximando já do seu final.
Mas Deniz apareceria mais uma vez. E, agora, com mais brilhantismo ainda. Se já parecia impossível pensar que havia tido alguma falta em Neymar no primeiro Pênalti, agora tudo iria para o espaço...
Veja quantas vezes quiser o lance. Veja, reveja, em câmera lenta. Agora me responda: Onde, em que momento da disputa de bola entre Marquinhos e Súarez, Há falta? O braço de Marquinhos em Súarez? Sem chance, contato normal e nem de perto o suficiente para derrubar o Uruguaio. Mas o craque do jogo enxergou pênalti na jogada. Neymar, e não Messi,  bateu com confiança e marcou. O impossível tornava-se possível. Havia tempo para o sexto gol.
Foi aí que Neymar tirou uma carta da manga. Em uma jogada que noventa e nove por cento dos jogadores do mundo tentaria arriscar um chute ou  um cruzamento a esmo para o meio da área, Neymar ameaçou, driblou, e numa cavada genial, achou Sergi Roberto livre na área para marcar o sexto gol.  Lindo! Incrível! Mas principalmente constrangedor...
Confesso que antes do jogo começar, torcia pela virada , mesmo sabendo da improbabilidade disso acontecer. Mas da forma que foi, o único sentimento que ficou foi o de constrangimento.  Foi uma vergonha o que vimos na partida.

Após o fim do jogo, os comentários em sua maioria eram: “um time que leva seis gols não pode reclamar de arbitragem”. A amarelada do PSG foi indiscutível, jogou como time pequeno. Sim, é a mais pura verdade. O PSG foi muito mal. Mas não tão diferente do que fizera o Barcelona semanas atrás. Todo grande time tem o direito de jogar mal às vezes. Nenhum time é perfeito. Mas o que não podemos é justificar com isso os “erros” grotescos e tão influentes na partida como vimos neste Barcelona e PSG. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meio século da maior banda brasileira da história

Há cinco décadas, o trio formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, lançavam o primeiro disco de sua carreira. Marcado pe...