Não se fala em outra coisa no futebol brasileiro: O ato de honestidade de Rodrigo Caio, zagueiro
do São Paulo. Em um lance onde disputava bola com o atacante Jô, do
Corinthians, Rodrigo Caio acidentalmente pisou no goleiro da sua equipe que
chegava para agarrar a bola. O árbitro acabou
se enganando e, se já não fosse o bastante marcar a falta equivocadamente pois
havia achado que o pisão tinha sido dado por Jô, deu cartão amarelo para o
atacante. O cartão aplicado pelo juiz tiraria Jô da segunda partida entre as
mesmas equipes, válida pelas semi-finais do glorioso campeonato paulista. Mas,
no meio disso tudo, Rodrigo Caio recorreu ao juiz e confessou que na verdade
ele havia pisado no goleiro, fazendo com que o erro fosse consertado. Atitude
não apenas correta, como também rara. E não apenas no futebol. Em um País de
espertinhos que adoram tirar vantagem em tudo, Rodrigo foi honesto e recusou a
vantagem dada ele e sua equipe indevidamente pelo árbitro do jogo.
Não entrarei na discussão estúpida a respeito dos comentários
de Maicon, assim como na suposta irritação de Rogério Ceni, técnico do São
Paulo, que não teria gostado muito da atitude de seu jogador. Claro, vencer,
não importa em que circunstâncias. Esse parece ser o lema de Rogério.
Mas o que mais chama a minha atenção nesses casos, é o quase
emocionante discurso bradado por certas pessoas, sejam jornalistas, torcedores
e até mesmo jogadores de futebol. Estes que, pela maneira que falam, dão a
entender que são pessoas honestíssimas e que lutam sempre pela justiça, não
importa em que área seja, não importa para que time ou seleção seja, na
verdade, eles amam a justiça acima de tudo e de todos.
Isso seria digno de aplauso, se não fosse a estranha
incoerência que há entre o discurso e a ação da maioria desses militantes da
justiça.
Quantos jornalistas ignoraram o roubo DESCARADO no confronto
pela Liga dos Campeões entre Barcelona e PSG, como se a exuberante atuação de
Neymar tenha sido o grande motivo da eliminação da equipe francesa? Quantos
jornalistas se calam e simplesmente ignoram as lambanças e traquinagens dos
cartolas do futebol brasileiro, seja por morrerem de medo de perder o seu
emprego por irem contra à ideologia do veículo de comunicação em que trabalham,
ou mesmo para não ficarem mal com um ou outro dirigente?
Quantos torcedores não se importam com a forma como a sua
equipe vença, mesmo que com erros grotescos da arbitragem? Quantos torcedores
usam carteira de estudante falsificadas para poderem pagar meia-entrada em
jogos de futebol? Ou mesmo em suas vidas particulares, em seus trabalhos, onde
quer que seja, seriam eles tão honestos a ponto de exigirem a honestidade dos
outros da forma que fazem?
E os jogadores, quantos deles não simulam faltas de forma
vergonhosa quase que o tempo inteiro? Quantos deles não fazem uso de artifícios
para ludibriarem a arbitragem? Ouse perguntar se eles mesmos agiriam da mesma
forma que Rodrigo Caio e as respostas não deixarão dúvidas: Todos são
honestíssimos.
A conclusão que se chega ao analisar isso tudo é um tanto
estranha. Nós brasileiros, somos abençoados. Vivemos em um País onde todos são
honestos, onde temos horror à injustiça. O jeitinho brasileiro, a peculiar
malandragem, isso tudo é apenas uma lenda criada por algum outro povo.
Bem, pelo menos é essa a impressão que passamos ao
colocarmos a máscara da honestidade.